Minha vida antiga se foi. Dela sobraram apenas lembranças, cicatrizes, suvenires e sentimentos. Não caibo mais nela. Simplesmente somos gritantemente incompatíveis. Essa vida me irrita, e eu a irrito. Nos detestamos. No entanto, nunca soube que seria tão difícil me desvencilhar do passado. Quem diria que às portas da vida antiga estaria o limbo? Nas minhas fantasias, imaginava que passaria pelo portão de saída e encontraria um mundo colorido de certezas. À medida que me aproximava do fim, eu percebia que haviam apenas duas certezas: seria impossível voltar atrás, e eu deveria abraçar a dúvida para sobreviver. A dúvida é o que faz tudo girar. Ou será parar de girar? Só sei que estou ficando tonto. Questionar é um direito, um dever, um absurdo, uma blasfêmia, um protesto de milhões de vozes. Aqui no limbo, a certeza não tem espaço, não encanta. Aqui é frio, sim. É frio pois é longe da zona de conforto. Mas é inevitável, e tem um quê de destino que é contagiante.
Vagar pelo limbo nunca esteve nos planos, mas aqui estou. Vejo minha incompatível velha vida, e também vejo a vida daqueles que tiveram outras oportunidades, outros pontos de vista. Essa é a vida que eu passei a invejar. Essa inveja também é limbo, afinal estou atrasado demais para embarcar naquele trem. Cheguei tarde. É difícil saber para onde ir, onde me encaixar. A esperança é de que talvez não seja preciso me adequar a nenhum modelo. Pode ser que dê para viver sendo simplesmente eu, e ser feliz com isso. Nesse momento alguns fios de luz a mais vêm iluminar meu caminho. Não há trilha, só vontade de ver o sol, e esperança. Bastante.
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