segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Tartarugas Ninja, Goonies, Crianças e Roteiros Ruins

Quero falar sobre um filme infantil adorado por multidões e que encanta pessoas de todas as idades. Sua trama gira em torno de um grupo de quatro personagens principais: um líder, um falastrão não muito inteligente, um nerd inventor e um jovem expansivo e com bastante presença. Acham que estou falando do novo filme das Tartarugas Ninja? Na verdade, a história a que me refiro é Os Goonies, filme de 1985.

O ano em que o filme foi feito é muito importante. Nos anos 80 a possibilidade de criação de efeitos visuais era muito pequena e as crianças eram bem menos inteligentes que as de atualmente. A geração da internet é muito inteligente, e isso se reflete nos produtos que eles consomem, gerando a possibilidade de se vender histórias cada vez mais complexas para pessoas cada vez mais jovens. Fica claro que As Tartarugas Ninja tinha um potencial muito maior de ser um sucesso do que Os Goonies. Então porque o filme de 2014 é tão ruim?

A resposta é fácil: existe um mundo de diferença entre um roteiro simples e um roteiro ruim. Por mais que se espere que um filme voltado para o público infantil tenha uma história sem complexidade, isso não significa que a história deva ser pobre. E é aí que, a meu ver, o novo filme das Tartarugas falha. Tudo é questão de roteiro, e um filme voltado para crianças pode ser profundo, no estilo Como Treinar Seu Dragão, ou descomplicado como no filme original das Tartarugas, de 1990. Mas não pode ser burro.

Quais são as características principais de um roteiro ruim? Na minha opinião, o principal é que um roteiro fraco explica a história através de diálogos, em vez de recursos mais sutis de narrativa. Então quando o personagem Eric Sacks (criado para o filme de 2014) explica toda sua relação com o Destruidor em um longo discurso, ou quando April O'Neil tem a necessidade de falar com sua colega de quarto que suas tartaruguinhas de estimação viraram ninjas, fico pensando em como isso poderia ser feito de forma mais interessante. Não bastaria estabelecer que o destruidor é mau, e mostrar Eric se encontrando com ele e o chamando de mestre? O flashback de April com as tartarugas e seu pai falando sobre a pesquisa não é suficiente? Para as crianças de hoje em dia, eu garanto que é.

Outra particularidade de um roteiro ruim é que as situações que ocorrem ao acaso facilitam a vida dos personagens. Isso passa certa estranheza para o público, pois na vida real geralmente o acaso leva a complicações. No filme de 1990, o fato das tartarugas terem salvo April por acaso, leva ao sequestro de Mestre Splinter, que é a motivação para o desenvolvimento da trama. No filme deste ano, o encontro dos heróis com a jornalista leva à descoberta de que todos eles -- tartarugas, mestre, vilões e garota -- estavam ligados havia mais de 15 anos, facilitando bastante a explicação das origens e motivações. Meio burro né? Também acho.

Não quero criticar aqui os filmes feitos puramente pela diversão. Muito pelo contrário. O que eu mais espero ao ver um filme sobre tartarugas mutantes ninjas adolescentes é a diversão! Mas é decepcionante saber que em uma época de histórias feitas com tanto carinho (vide Guardiões da Galáxia), ainda existam outros que desconsideram totalmente a inteligência do publico.

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